Faço parte de um projeto (sim, não vim aqui só para passear não... rsrsrsrs) como pesquisador convidado da UAB. O projeto, falando de maneira breve e simplificada, procura investigar o uso do tempo livre por parte dos jovens, suas relações com os meios de comunicação (especialmente internet e celular) e as sociabilidades entre a juventude migrante e a nascida aqui em Barcelona.
Daí, essa semana fomos fazer trabalho de campo em uma escola pública em Badalona (como se fosse uma "periferia" daqui) e duas coisas me chamaram a atenção:
1) A diretora e as professoras da escola falaram que os pais que são daqui mesmo de BCN não querem que seus filhos estudem mais nas escolas públicas, porque elas estão cada vez mais cheias dos filhos dos imigrantes e eles (nativos daqui) não querem que sus hijos convivam com latinos, chineses, marroquinos (os os filhos desses indivíduos, que mesmo que tenham nascido aqui não deixam de ser filhos de imigrantes). Então, esses filhos de catalãos menos abastados estão indo para as escolas concertadas, que são escolas privadas, mas que destinam parte de suas vagas para alunos que não podem pagar. É como se fosse um colegio particular, mas que tem uma parte das vagas voltada para alunos de escola pública. E nas escolas particulares estudam os catalãos de classe média e alta.
2) Têm muitos chineses por aqui, muitos mesmo! E daí, na hora de aplicar os questionários com os adolescentes chineses (mesmo os que já nasceram aqui) era um problema sério, porque eles simplesmente não escrevem em castelhano e nem em catalão!!! E o questionário têm várias perguntas abertas. Daí as professoras falaram que é assim mesmo, que os chineses demoram muuuuuuuuuuuuuito a integrar-se à comunidade e que eles acabam falando só com os outros chineses. Eles ainda arranham para falar, mas ler e escrever é um transtorno para esses jovens. Daí que nós (eu e a equipe do projeto) tínhamos que usar de toda a nossa pedagogia para fazer com que os questionários fossem respondido por eles, algumas vezes tendo que nós mesmos escrever em seus lugares. A gente perguntava, eles diziam e nós escrevíamos. E quando eles falavam mandarim?!?!?!?!?! Jesus Cristo, a gente não sabia o que fazer... Daí eu fiquei pensando como é difícil você viver num lugar e não saber a língua desse lugar. Porque uma coisa é eu ir passar uns dias na Alemanha e não saber falar alemão (e mesmo assim deve ser desconfortável), outra completamente distinta é viver uma vida numa cidade e não conseguir se comunicar bem com ela. Que difícil essa situação... Mas me chamou muito a atenção o interesse dos professores com esses garotos... Todos me pareceram super pacientes e esforçados em trabalhar num sentido de fazer esses jovens, senão integrar-se, pelo menos falar a língua do país onde vivem.
sexta-feira, 26 de março de 2010
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Ei Barsi..muito legal essa sua experiência na Espanha viu..e principalmente pelas coisas novas que vc está tendo a oportunidade de conhecer.
ResponderExcluirAchei bem interessante essa questão dos chineses e isso me fez lembrar a tese de doutorado de uma professora minha que realizou um estudo na Alemanha em que os povos Turcos sofrem algo parecido com isso que vc descreveu e dai que ela faz um paralelo com o que acontece com os nordestinos (pobres) que migram para o sul e sudeste.
Uma coisa interessante que ela analisou e que acho legal vc pensar é que não se trata somente dos chineses terem dificuldades em aprender o idioma. Em muitos casos, eles não querem fazer isso. São povos que, como os turcos, possuem uma identidade cultural muito forte e não aprender o idioma se configura como uma forma de resistência e de luta por garantir que eles sejam respeitados enquanto seres humanos independente do país em que nasceram ou da língua que falam. Talvez para nós, que observamos de uma ótica diferente, isso possa parecer absurdo mas para esses povos é uma forma de garantir sua legitimidade e a força de sua cultura.
Bjos querido..
Maria Fernandes.