É impressionante como algumas coisas na vida aparecem só para tirar o nosso juízo... Quando a gente está vivendo um mar de calmaria surge algo para nos balançar e mostrar que a vida parece que é mesmo feita de fortes emoções. Desde ontem minha cabeça está ligada a um fio condutor de 220v e eu simplesmente não consigo desligar...
Ano passado eu fiz um concurso para professor efetivo do curso de Comunicação Social da Universidade Federal do Ceará – Campus Cariri e fui aprovado em segundo lugar. Perfeito! Eu já sabia que viria para Barcelona este ano e o concurso foi mais como um “teste” e uma experiência, já que eu nunca havia feito nenhuma seleção como essa.
Pois eis que agora a UFC conseguiu mais uma vaga de professor para o curso e ligaram ontem lá pra minha casa em Fortaleza me chamando para assumir em julho... Um cargo concursado, estável, de professor de uma universidade federal e com um bom salário... A razão me faz pensar assim. Mas a emoção, essa que a vida inteira eu tenho tentado apagar dos meus sentimentos e ocultar das minhas ações, me faz pensar na experiência indescritível que está sendo morar aqui, nas coisas que estou vivendo, nas pessoas que estou conhecendo, nos projetos nos quais estou envolvido, nas viagens que estou realizando (e nas que já tenho passagem comprada para realizar), no banho de cultura que estou tomando, enfim, em tudo o que o ano na Europa está trazendo para mim...
Todos me falam “ah, mas você é muito novinho, vai ter inúmeras outras oportunidades de concursos no futuro. E tem um currículo ótimo, vai ser muito fácil conseguir dar aulas nas universidades particulares enquanto o concurso não chega” ou então “Daniel, se você tivesse 40 anos eu diria para você aceitar, mas agora não vejo porque essa busca desenfreada por estabilidade, você tem um mundo de coisas boas te esperando em Barcelona”... Concordo com todas as opiniões que me foram dadas, mas a verdade é que nos dias de hoje você “esnobar” um cargo público, estável e com bom salário não é fácil, mesmo que seja para trabalhar em Juazeiro, que não é o sonho de consumo de ninguém em termos de cidade para se viver. E, apesar desse meu ar “cosmopolita”, eu tenho uns sonhos bem “provincianos” também, como, por exemplo, casar e ter filhos... Essa coisa de formar família, que parece meio em desuso nos dias de hoje, é um objetivo de vida. Não vejo a hora de passear no shopping empurrando um carrinho de bebê, segurando a sacola do moleque, entrando com ele na piscina de bolas, comprando suquinho de laranja para colocar na mamadeira...
Penso na segurança que esse cargo vai me trazer, mas ela, a bendita da emoção, me faz pensar nas cidades que eu ainda vou conhecer, nas amizades que ainda vou fazer, nos livros que ainda vou comprar, nas experiências que ainda vou viver, nos trabalhos que ainda vou desenvolver, na viagem de lua-de-mel antecipada à Paris com a Lu em setembro, enfim, em tudo o que eu programei para a minha vida até março do próximo ano.
Preferia mil vezes não ter sido obrigado a ter esta dúvida, mas, ao mesmo tempo, creio ser uma blasfêmia eu estar achando ruim ter uma dúvida entre duas possibilidades boas que se abriram para mim, enquanto um mundo de gente não tem opção alguma... sinto-me até privilegiado por poder escolher em uma situação social na qual os profissionais cada vez tem menos escolhas...
Em todos os meus embates razão x emoção a pobrecita da emoção perde, nem sei como ela ainda tem coragem de se manifestar dentro de mim (se fosse eu já teria me revoltado com tantos “foras”e teria feito voto de mudez). Mas hoje eu acho que, pela primeira vez, o Daniel metódico, racional, prático, objetivo e frio vai dar um voto de confiança à emoção.
O dinheiro imediato às vezes não é tudo... Será que ele compraria toda a bagagem de experiências que eu estou construindo aqui na Espanha, as pessoas de vários países que estou conhecendo, os projetos de pesquisa, a segurança de andar nas ruas sem medo? O dinheiro compra cultura, conhecimento, aprendizado e um título de doutorando-sanduíche da Universidade Autônoma de Barcelona? Essa é a grande pergunta que eu me faço desde ontem... Eu acho que não, mas uma resposta plena e convicta ainda não encontrei. Mas é preciso arriscar, né? E para mim, que sempre fui certinho e metódico em tudo, isso é um grande desafio.
O bom disso tudo é saber que os outros protagonistas da novela da minha vida (meus pais e a Luciana) me apoiaram na minha decisão, seja ela qual fosse. Papai e Luciana com seu jeito mais comedido e discreto, e mamãe mais explícita na sua torcida para que eu permaneça vivendo o meu sonho de Barcelona. Mas todos, cada um a seu modo, tentaram fazer com que tudo ficasse mais leve para mim...
Até às 17h do Brasil tem que sair o meu “comunicado oficial”, mas tô achando que um certo terceiro colocado, que já nem tinha esperanças, vai ganhar uma bela surpresa com um telefonema da UFC...
terça-feira, 11 de maio de 2010
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Primo, se eu for opinar sobre esse seu embate olhando o modo como vejo a vida,e como sempre me portei, sem dúvida eu direi" Fique aí, continue seu sonho essa oportunidade não volta". Ao passo que concursos e empregos para pessoas como vc não faltarão.
ResponderExcluirAgora resta a pergunta: Vc estaria mesmo preparado para uma vida acomodada, sendo o eterno professor, e por cima numa cidade de interior? Aí o que falará mais alto é o seu objetivo de vida,a sua vocação. Apenas isso o levará a fazer a escolha certa. Mas todo esse caminho que vc tem trilhado até hj e com tantas outras oportunidades e conhecimentos que virão até vc nessa viagem,farão com que vc logo entenda que ser professor de universidade, (salário bom?)vida enquadrada, não é sua praia. E afinal, vc tb está dando oportunidade a outra pessoa que deve precisar desse emprego mais que vc, por não estar tendo as oportunidades que vc tem hoje. Bola pra frente e no futuro próximo vc vai poder escolher todos os empregos que
desejar. Desejo que vc tenha feito a escolha certa. Bjs EB
Saludos de hostels barcelona nest y buena estancia en España!
ResponderExcluirElbia, muito obrigado pelos elogios! será que eu tô com essa bola toda mesmo??? Rsrsrs. Mas deixa eu fazer uns comentários: as pessoas fazem doutorado para seguirem carreira acadêmica!!! o Mestrado não, tem gente que faz para "ver qual é", para melhorar o currículo, etc. Mas um doutorado só faz quem tem muuuita vocação para a docência. Ser um professor universitário é a "minha praia sim", pode acreditar!!! E de todos os outros que fazem um doutorado. Fazemos o curso de seis anos (2 do mestrado + 4 do doutorado) para dar aula e fazer pesquisa em universidade. Só não gostaria que fosse no interior, isso é lógico. E quanto ao salário, ele é muito bom comparando com o que é pago no serviço privado em geral. Fora que em universidade você tem todo um plano de carreira e vai incorporando gratificações ao longo do tempo. Enfim, eu realmente nasci para a docência e para a pesquisa acadêmica!
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